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Trabalho Voluntário com animais na Mongólia (-45 graus)

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Trabalho Voluntário com animais na Mongólia (-45 graus)

Trabalho Voluntário com animais na Mongólia (-45 graus)

Eu já estava na Mongólia há pouco mais de 10 dias e depois de rodar um pouco pela capital Ulan Bator, decidi fazer algo diferente, pensei então em trabalho voluntário e comecei a pesquisar online quais seriam as opções disponíveis pelo país.

Como o frio estava muito intenso, algo em torno de -25 graus celsius chegando a -30 graus todos os dias, decidi que faria algum trabalho mais tranquilo, algo interno, onde não teria contato com frio constante.

Foi então que lembrei do site Workaway.info, plataforma na qual você paga uma taxa anual e que te possibilita arranjar trabalho voluntário em várias partes do mundo. Depois que você paga, tem 1 ano para contactar ongs ou responsáveis por receber voluntários. Entrei rapidamente no site, fiz meu perfil e achei 6 opções de trabalho voluntário na Mongólia, das quais 2 eram em Albergues na capital e 4 eram em fazendas, ajudando na manutenção e cuidando de animais. Foi ai que pensei:

“Pow, já que estou na Mongólia, de qualquer forma o frio já é intenso, porque não levar essa experiência ao extremo e ver de perto como os moradores locais tentam viver de forma normal, com temperaturas extremamente baixas.”

E foi com base nesse pensamento, que decidi fazer o oposto do plano inicial, e me submeter a uma experiência em uma fazenda, conviver com os moradores locais, cuidar de animais e entender um pouco quem são essas pessoas, onde vivem, o que comem, qual sua rotina e assim por diante.

No decorrer dos meus primeiros dias na capital, conheci alguns viajantes e dois deles eram franceses, Remi e Florian, que também estavam em uma longa viagem ao redor do mundo e cogitaram a possibilidade de trabalhar na fazenda comigo.

Como eles também criaram um perfil no site do workaway, mandamos mensagem para uma fazenda chama Anark Ranch, onde um australiano de quase 70 anos é o proprietário, ele se chama Martin e mora a pouco mais de 15 anos na Mongólia, é casado com uma mongol, a Minjee, que tem lá seus 30 e poucos anos.

Ambos recebemos sinal verde para fazermos o trabalho em sua fazenda e decidimos que na Terça dia 29 de Dezembro, iríamos pegar um trem, numa viagem de 8 horas a caminho da vila que eles moram.

Saímos de Ulan Bator no dia 29 pela manhã, pegamos um trem, que nos custou algo em torno de R$ 13,50, e dividindo vagão com alguns moradores locais, estávamos a caminho desta nova experiência. 

Foi de forma proposital que optei por estar na Mongólia durante o inverno, pois queria evitar encontrar com turistas, sabendo que a maioria das pessoas temem este frio super intenso. Fiquei feliz que meu plano deu certo, pois em todas as viagens internas que fiz, nunca me deparei com turistas. Somente os que eu conhecia na capital e decidíamos explorar juntos.

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O programa que escolhemos, é basicamente uma troca, onde você trabalha na fazenda e recebe alimentação e acomodação como pagamento.

Não sabíamos exatamente o que iríamos fazer, mas estávamos todos prontos pro que desse e viesse.

Chegamos na cidade de Orhon as 7 da noite, os termômetros marcavam -35 graus e a estação estava praticamente sem ninguém, uma ou outra lâmpada acesa e o trem que estávamos, em poucos minutos partiu, deixando aquele clima de suspense, pois não sabíamos quem iria nos receber ali.

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Com uns 3 minutos de espera, vi um rosto conhecido, um Sueco que eu havia conhecido na capital Ulan Bator e que havia saído para a fazenda uma semana antes de mim, ele veio e nos avisou que o pequeno caminhão com o dono da fazenda estava atrás da estação. Esse seria nosso transporte para a fazenda.

Ao chegarmos no automóvel, só tinha lugar para dois, portanto eu e os 2 franceses jogamos nossos mochilões na caçamba e pulamos lá também. Com o carro em movimento não consigo descrever o frio que fazia, mas posso afirmar que foram os 15 minutos mais congelantes que já passei até hoje.

Chegamos no rancho que ficaríamos os próximos dias, dava pra avistar alguns cavalos que estavam do lado de fora em uma das baias, e sem falar nada, o dono da fazenda saiu do carro e nos deixou pra trás. Achei um pouco estranho, mas rapidamente pegamos nossas malas e fomos atrás dele.

O Martin é aquele senhor casca grossa, super sem paciência e logo de início deu pra ver que seria complicado a convivência com ele.

Fomos direcionados para o nosso quarto, para deixarmos as malas e a Minjee, sua esposa, nos acompanhou, pediu para retornarmos para a sala de jantar onde o Martin estava, e assim fizemos.

Quem me conhece sabe como sou comunicativo, gosto de um bom papo e faço brincadeiras sempre que possível. Abaixo, compartilho com vocês as primeiras palavras que ouvimos do dono da fazenda:

  • “Vocês começam a trabalhar amanha as 4:30 da manha;
  • O trabalho é tirar as vacas do curral; limpar o local; tirar os bezerros do outro curral e também limpar toda a área que fica os animais; depois devem dar comida para todos os animais (Vacas, bois, ovelhas, cabras, cavalos); levar as ovelhas e cabras para uma caminhada das 11 da manha as 4 da tarde (cada dia um voluntário é responsável por isso); juntar todas as fezes dos animais e colocar em lugares pré definidos por mim; carregar o caminhão com essas fezes; levarei vocês para descarregar o caminhão; limpar o patio central onde os animais ficam parte do dia; separar as vacas leiteiras; alimentar mais uma vez os animais; colocar os animais em seus devidos lugares; extrair do solo um tipo de vegetal para os animais, empacotar e distribuir; retirar água do poço para alimentar os animais e para utilizar na casa; lavar todas as louças utilizadas na cozinha (um voluntário responsável a cada 3 dias trabalho);
  • Tudo que a Minjee mandar vocês fazerem vocês obedecem, e tudo que eu mandar ela fazer ela me obedece, pois aqui eu mando em tudo e em todos;
  • Todas as refeições são servidas nesta mesa, mas se vocês sentarem aqui antes do que eu, devem esperar que eu chegue para começar a comer. Ninguém encosta na comida sem que eu esteja sentado na cadeira principal;
  • Se alguém fizer algo que eu não goste, tem que pagar 5 flexões e elas serão acumulativas, ou seja, se você fez algo que pra mim é errado, terá que fazer 5 flexões e na próxima vez, fará 10, na outra 15 e assim por diante;
  • Ele perguntou de onde meus amigos eram, eles responderam da França. Em resposta ele disse que odiava franceses.
  • Perguntou de onde eu era, falei Brasil. Ele comentou estar surpreso que um brasileiro conseguia falar inglês.
  • Para finalizar, ele disse: “Se vocês não estiverem satisfeitos com alguma coisa que falei, a porta está sempre aberta, vocês não são bem vindos aqui e estão previamente convidados a irem embora!”

Era o meu primeiro trabalho utilizando esse tipo de plataforma. Eu estava viajando há quase 1 ano e não havia conhecido alguém tão grosso e sem educação. No início eu achei que era brincadeira, mas depois fui ver que era algo real.

Esse foi o nosso: Sejam bem vindos a fazenda.

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Além do sueco, haviam mais dois franceses que já estavam por lá há 10 dias, ou seja, era eu de brasileiro, um sueco e 4 franceses como voluntários, contando também tinha o do dono da fazenda australiano e mais ou menos uns 8 mongóis, que faziam diferentes serviços.

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O banheiro era fora da casa, com apenas o buraco da privada no chão, e não havia local para banho, eles só tomam banho no verão, portanto não existia nenhum lugar para se banhar. O Martin comentou que nos 15 anos que ele morava no rancho, ele havia tomado apenas 16 banhos, então nós não precisaríamos nos preocupar com isso.

Sua pele era bem nojenta, tinha uma casca grossa escura em várias partes do seu corpo, ao redor das unhas e seu cabelo também dava pra ver que não via água há alguns meses. Parecia o personagem principal de um filme de terror.

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Os meninos que já estavam na fazenda há mais tempo, não haviam tomado banho e o sueco que planejava ficar 2 meses, já sabia que seriam dois meses sem ver água no corpo.

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Estávamos indo para o quarto, para nossa primeira noite, quando nos informaram que na verdade poderíamos acordar as 8 da manhã e que aquele seria nosso horário oficial para sair da cama. Levantamos, jogamos água no rosto, tentamos escovar dente, mas toda a água estava congelada. Desistimos e fomos direto para ver como executar nossas atividades.

O trabalho é bem puxado, 100% braçal e são basicamente 12 horas de trabalho por dia, onde o café da manhã é as 11, o almoço as 2 da tarde e o jantar as 8 da noite, após todo o trabalho estar realizado.

Normalmente essas plataformas pedem para que se trabalhe apenas 4 horas por dia. Nós sabíamos disso, mas não queríamos desistir e optamos por ficar ali mesmo sabendo que estávamos sendo feitos de “escravos”.

Tínhamos uma hora de descanso pós almoço, mas fiquei responsável por lavar as louças por 3 dias, então não consegui descansar metade do tempo que tive por lá.

Não existe conexão de internet disponível para os voluntários, nem mesmo telefone, portanto passei Ano Novo isolado do mundo, da família, amigos, sem saber o que aconteceu e sem falar com ninguém, apesar de tudo, foi bacana estar isolado de tudo que fui acostumado a viver nos últimos anos de comemorações, seja no Brasil ou na Europa, onde vivi por 5 anos.

A media da temperatura diária variava entre -30 e -45 graus, nosso trabalho era basicamente em áreas abertas, então foi bem puxado estar exposto ao frio extremo por tanto tempo, mas com o passar dos dias, seu corpo acaba se adaptando, você começa a aproveitar um pouco mais e ver que tudo na vida é questão de costume ou necessidade.

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Meu irmão e minha irmã são veterinários e o mundo deles está sempre relacionados com animais, além de entenderem sobre, eles gostam muito. No meu caso, nunca tive um animal de estimação e portanto nunca desprendi muito tempo com eles. Pra mim estava sendo um novo desafio dedicar tempo integral dos meus dias para essa experiência.

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Os dias na fazenda me trouxeram momentos bem próximos de cavalos, vacas e outros animais, o que foi muito bom. Dia após dia me sentia mais próximos deles e você acaba os conhecendo de forma mais próxima e naturalmente vai se apegando a eles.

A experiência em si foi bem positiva, apesar das grosserias do dono da fazenda com todas as pessoas ao seu redor. Consegui tirar pontos bem importantes desta experiência.

Pensei em desistir uma vez no meu quarto dia. Fui para o meu quarto e queria realmente estar longe daquele ser humano chamado Martin. Mas meus amigos franceses me chamaram e pediram para que eu relevasse suas atitudes e focasse na grandiosidade da experiência de poder estar ali. Eu parei, pensei e relaxei. Decidi que ficaria e que tentaria deixar tudo mais leve.

O momento com os outros voluntários foi bem interessante, dois franceses são formados em TI e estão fazendo uma viagem de 1 ano, o Sueco está estudando pra trabalhar na NASA e também está em uma viagem de 1 ano e os outros dois franceses que conheci na fazenda, estão há 3 meses na estrada e ião fazer uma viagem de 1 ano e meio, estão começando a descer em direção a Oceania, ainda tem muito chão pela frente.

IMG_7302Fiquei 7 dias na fazenda e juntamente com os dois franceses com quem fui, voltei para Ulan Bator, para dar continuidade a minha programação de viagem. A qual na sequência seria atravessar a Rússia quase que de ponta a ponta de trem. Eu estaria fazendo a rota completa da Transmongoliana e também da Transiberiana.

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As vezes quando paro para lembrar de algumas experiências que tive nesses anos de viagem, me pego pensando na fazenda, nas pessoas, no Martin, nos animais, no meu trabalho, no frio e em tudo que vivi por lá. Fico feliz que não desisti.

Finalizo deixando a dica da plataforma de trabalho voluntário chamada www.workaway.info para quem busca trabalho voluntário com custos baixos em qualquer lugar do mundo.

Soube que logo depois que saímos da fazenda, a plataforma soube das atrocidades que o Martin fazia e o expulsaram de lá. Ou seja, tudo normal. Tenho certeza que a maioria dos trabalhos oferecidos são feitos de forma mais profissionais por pessoas mais normais.

E você, o que achou desta experiência?

Comenta aqui no post se você também teria ficado por mais dias, ou se teria saído logo no início?

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