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Como foi minha experiência com o Ayahuasca

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Como foi minha experiência com o Ayahuasca

Como foi minha experiência com o Ayahuasca

Ainda busco palavras para descrever a experiência que tive ao tomar aquele chá.

O desafio é tentar transformar tudo o que vi em um texto que narre pelo menos um pouco do que vivenciei quando fechei os meus olhos e mergulhei de braços abertos nos meus próprios pensamentos.

Bem, há algum tempo busco informações sobre o Ayahuasca e sempre que comentava sobre essa minha curiosidade e interesse com alguém que já havia tomado, eu sentia que minha hora de viver essa experiência ainda chegaria.

Algumas pessoas não devem ter ouvido falar, mas o Ayahuasca existe há centenas de anos na cultura dos índios da região amazônica.

É um chá, produzido a partir da combinação de um cipó chamado Mariri e um arbusto chamado chacrona. Quando esses dois elementos são misturados, juntos produzem um efeito psicoativo.

Na prática, quando você toma o chá, existe uma ampliação na percepção e na capacidade de auto análise, que te possibilita acessar níveis psíquicos que estão no seu subconsciente.

Através de algumas pesquisas, acredita-se que o Ayahuasca tem um grande potencial para uso terapêutico antidepressivo e ansiolítico.

A primeira vez que escutei falar sobre o chá, tive muitas dúvidas em relação ao uso, pois achava que seria ilegal, por causa dos efeitos que causava.

Foi quando soube que no Brasil, seu uso é legalizado para fins religiosos através de algumas religiões, são elas: Santo Daime, União do Vegetal e A Barquinha (pode ser que tenham outras).

Basicamente eles combinam Xamanismo indígena, Kardecismo, Catolicismo e Umbanda para fazerem os seus rituais.

Foi através de uma delas, o Santo Daime, que eu vi a possibilidade de viver minha experiência e fazer o consumo da bebida.

Meu propósito em tomar o chá, era encontrar respostas para dois pontos pessoais que me incomodavam muito:

O primeiro, sobre minha relação com minha mãe; o segundo, sobre os impactos que a depressão, que eu vivi em 2017, tiveram em minha vida. Queria não encerrar de vez com ela, mas tentar estar mais forte para quando ela viesse.

Estava eu em Natal-RN, num bate papo informal com uma amiga, quando ela comentou que conhecia alguém que havia participado do ritual e que tinha adorado a experiência. Na hora comentei que eu gostaria de fazer o mesmo, pois naquele momento da conversa eu sentia que o meu momento havia chegado.

Ela disse que sempre teve medo, mas que se eu fosse, ela também iria, e assim iniciamos nossas pesquisas para contactar as pessoas certas e ter acesso ao ritual.

Com alguns telefonemas, chegamos ao contato de uma senhora que é uma das coordenadoras da igreja que queríamos visitar, e ela nos informou que haveria um ritual no dia 15 de Junho de 2018 (Sexta), mas que para participar, todos os interessados deveriam passar por uma entrevista.

Ela nos passou o endereço e horário, e assim fizemos, saímos da cidade de Natal, e três dias antes do ritual, fomos em uma das cidades vizinhas, local onde ela morava, para ter esse bate papo pessoalmente.

A conversa durou pouco mais de 1 hora, foi tranquilo e muito esclarecedor. Nos foi passado que daquele dia até a Sexta, deveríamos evitar comer carne, ingerir álcool e não ter relações sexuais, ou seja, deveríamos seguir isso por 3 dias e nos recomendou também que no dia do evento, teríamos que ir com roupas claras.

Falamos que estava tudo ok, pegamos as informações de como chegar ao local e horário do ritual e nos despedimos ansiosos.

Quando estávamos saindo, o marido da senhora que nos recebeu, falou que é normal acontecer mil coisas no dia da cerimonia, para que as pessoas não consigam ir, mas que deveríamos enfrentar os obstáculos e irmos.

Demos uma risada e nos despedimos.

Dito e feito, aquela Sexta feira foi um caos, tanto pra mim, quanto pra minha amiga. Mil coisas aconteceram, até o carro dela deu problema e quase que ela não conseguia ir, mas nos últimos minutos, conseguimos nos organizar e fomos.

Estava marcado para começar as 20 horas, com duração de 4 horas, ou seja, o ritual iria até a meia noite.

O local onde está a igreja, fica a 30 km do centro de Natal, em uma praia chamada Tabatinga, fica isolada, sem placas de sinalização e acesso, literalmente no meio do mato.

Imediatamente já me senti muito conectado com a natureza, pois tinha muito verde e barulho de bichos.

A igreja é rústica, apenas parte da construção tem paredes, ela é vazada, com decoração simples mas bonita. Contei rapidamente, e vi que haviam 25 cadeiras, posicionadas de forma circular.

Chegamos, demos nossos nomes, perguntaram quem fez nossa entrevista, e nos deram dois caderninhos para seguirmos as músicas. A cerimonia é feita através de um ritual cantado.

No meio do salão, havia uma mesa onde ficavam imagens de alguns Santos e da nossa Senhora, juntamente com muitas velas, já acesas.

As cadeiras foram posicionadas de forma onde um primeiro círculo com 6 pessoas ficariam ao redor da mesa no centro, logo depois havia um segundo círculo para 14 pessoas, e por último as cadeiras restantes ficavam espalhadas.

Do lado esquerdo ficavam as mulheres e do lado direito ficavam os homens.

(Foto Ilustrativa, como não tirei foto no dia que fui, busquei na internet alguma foto que passasse de forma mais clara a mensagem do que vivenciei.)

Nos informaram onde estavam os banheiros e falaram quais músicas deveríamos cantar, pediram para que avisássemos para a pessoa que fosse servir o chá, que era nossa primeira vez.

Caso passássemos mal (vomito ou diarréia) após a ingestão do chá, poderíamos nos retirar e ir ao banheiro, mas voltar para o grupo assim que possível. Havia um ajudante homem para os homens, e uma ajudante mulher para as mulheres (eles também consomem o chá).

As 20h em ponto começamos a rezar algumas vezes tanto o pai nosso como também a ave maria, com algumas variações das palavras na maneira rezada pelo católicos. Ao terminar, foi falado que estava aberta a cerimonia.

Neste momento, um dos senhores que estava sentado nas cadeiras do centro, se levanta, e vai para uma sala ao lado onde está localizado algumas garrafas de 2 litros com o chá. Um outro senhor o acompanha, e começam então a distribuição: é servido um copo no estilo americano quase cheio de chá para uma pessoa na fila dos homens, a mesma dose para uma pessoa na fila das mulheres, e assim vai, até todos os participantes terem tomado.

Eu havia escutado falar que o gosto é ruim, mas particularmente gostei do sabor. É um gosto forte de terra, mas nada que não desse para tomar.

Ao voltarmos para nossos lugares, começamos a cantar, seriam 11 músicas.

As letras são bem bonitas, e passam uma mensagem de muita luta, garra, felicidade, auto conhecimento. Era bem legal acompanhar a todos que estavam ali cantando.

Os minutos iam passando e eu não sentia nada. Estava ansioso, comecei a pensar que não iria fazer efeito algum em mim.

Eu olho para a minha amiga, que está do outro lado, bem na minha frente, e assim como todos os outros, ela também parece estar normal, cantando e concentrada no livrinho das músicas.

Já havia tomado o chá há meia hora, quando de repente me veio a cabeça uma memória de quando eu estava em Vladivostok na Rússia, fazendo compras em um mercadinho de bairro, com uma namoradinha que tive.

Não entendi nada, pois foi como se eu estivesse lá, vivendo novamente aquele momento, mas consciente de que eu havia tomado o chá. Eu conseguia me comunicar com ela, sentia o toque e todas as percepções estavam normais.

Fiquei um pouco assustado com tamanha realidade do que estava vendo. Tudo era muito real. Num piscar de olhos, voltei para o ritual e para as músicas. Foi sensacional.

De repente, comecei a abrir muito a boca, parecia estar com sono, parei de cantar, apoiei os meus braços em minhas coxas, coloquei as mãos nos olhos já fechados, e comecei a ver várias cenas que já havia passado da minha infância em Brasília, de amigos que eu não vejo ou falo há anos, de momentos com minha família e do nada, voltava para onde eu estava, ali na cerimonia.

Uma dica importante que me deram, foi sobre a respiração. Sempre que possível, se concentre na respiração. Então toda vez que meus pensamentos voltavam para o ritual, eu começava a respirar de forma mais profunda e intensa, mas do nada, eu ia pra outra dimensão.

Uma hora abri os olhos, as luzes estavam apagadas, todos estavam calados, concentrados e a única luz no ambiente era a das velas no centro do salão. Fechei o olho, quando abri de novo, eu via linhas verdes brilhosas na horizontal e na vertical, que estavam por todos os lados. Parecia uma grande matrix, todos os objetos e todas as pessoas, se encaixavam perfeitamente nos quadradinhos que aquelas linhas formavam. Era como se eu estivesse vendo a matrix da minha vida.

Eu olhava pra cima, pros lados, pra baixo e tudo estava na matrix, foi surreal ver aquilo na minha frente.

Parecia que eu estava só, e que todos no ambiente estavam completamente paralisados. Não me dava vontade de andar ou fazer nada, só tive vontade de observar tudo aquilo que estava vendo.

As linhas somem e de repente fui direcionado para outro pensamento, mas não consigo me lembrar o que foi.

Dentre todos os pensamentos que surgiam, uma sensação muito forte que tive, foi na verdade uma confirmação, para que eu continuasse aproveitando todos os momentos da vida de forma intensa, como sempre faço.

De um modo geral, nunca penso muito na morte, mas ali, naquele momento, ficava aquela mensagem clara de que tudo isso que vivemos é passageiro, e sendo assim, fiquei ainda mais feliz de estar ali naquele momento, vivendo algo que eu tanto queria.

Em um determinado momento, sai novamente do mundo real, mas estava incerto se o que eu via estava acontecendo ou não. Me lembro que estava de cabeça baixa, quando um rapaz se aproximou e perguntou se podia me fazer 3 perguntas. eu disse que sim.

Por algum motivo eu não tinha coragem de olhar para o seu rosto. Ele me fez perguntas sobre o relacionamento amoroso que eu vivia naquela época; Fez perguntas sobre a relação que eu tinha com minha mãe e por último, fez algumas perguntas sobre o meu trabalho, focando no porque eu fazia o que fazia, e não fazia o que amava.

Foi uma conversa muito dura pra mim, pois ele apontava de forma muito simples os meus erros e defeitos, e tentava me mostrar que eu sei que eles existem, mas de forma consciente, não tomava nenhuma ação para trazer mudanças para minha vida.

Tudo que ele falava, eu sabia que fazia sentido, eu estava muito envergonhado e não queria olhar para ele. Na verdade, eu estava com muito medo, pois não sabia como uma pessoa de fora, sabia tanto de mim. Achei estranho, não fazia sentido ele saber tanto.

Depois de manter esse diálogo por alguns minutos, decidi que iria enfrentar esse cara e decidi olhar para a cara dele. Criei coragem, levantei meu rosto e olhei dentro dos seus olhos.

Fiquei em choque. A pessoa que estava ali em pé, do meu lado, apontando todos os meus principais e mais profundos defeitos, era eu mesmo. Havia um outro Danniel naquele ambiente. Falando comigo mesmo. Uma projeção real. Eu me vi atrás de mim. Tudo ficou mais claro.

Eu sabia que algo mudava dentro de mim. E que precisaria de tempo para processar aquela conversa.

De repente alguém liga as luzes, algumas palavras são ditas, não faço a minima idéia do que era, ainda sentado, vejo as pessoas se levantando e indo tomar o chá mais uma vez.

Esse é o momento onde abre-se a cerimonia para quem tiver interesse possa tomar o chá mais uma vez.

Aguardei todos irem, e fui o último na fila dos homens, queria ter certeza que eu estava bem, para poder tomar de novo.

Tomei o chá pela segunda vez, voltei para a minha cadeira, e começamos a cantar uma nova seqüência de músicas.

Meia hora depois, comecei a abrir a boca e ter sono, sabia que o chá já estava começando a fazer efeito.

Ao entender que iria acessar informações importantes na minha cabeça, eu tentei direcionar meus pensamentos, para tópicos que são importantes para mim. Tentei focar no meu relacionamento com minha mãe e queria ver o que eu vinha de pensamento sobre suicídio e depressão.

Toda vez que eu tentava direcionar meus pensamentos para esses assuntos, no mesmo segundo, eu começava a enxergar coisas totalmente diferentes e assim não conseguia ter as respostas que eu queria. É como se meu inconsciente não quisesse que eu tivesse acesso ao que eu queria.

Mais uma vez fiquei fora de mim, e comecei a me questionar sobre alguns assuntos do meu presente.

Se eu estava realmente feliz na relação que estava vivendo, se estava feliz seguindo o rumo que estou levando minha vida. Vi que estava sem foco para os meus projetos principais de vida, coisas que sempre quis fazer, mas que na verdade, fui deixando de lado. Tava claro o que precisava ser feito.

Nesses momentos de alucinação, eu não consigo me lembrar se eu ficava com olhos abertos, fechados, ou fazendo algo, é como se eu deixasse o meu corpo naquela cadeira e saia para outra dimensão.

Desta segunda vez que tomei o chá, as luzes ficaram acesas o tempo todo, então eu percebia que somente eu e uma outra menina, estávamos sob efeito do chá, o restante do pessoal, inclusive minha amiga, ficavam cantando e seguindo o ritual, aparentemente sem nenhuma alteração.

As alucinações iam e vinham, e quando surgiam, não tinha nada que eu pudesse fazer para controla-las. Eu sentia que tinha que me entregar totalmente para que aquela vivência fosse a mais verdadeira possível.

Em um certo momento, sinto uma mão me cutucando no braço, vejo que está fora do contexto do que eu estava pensando, só ai percebo que é alguém do mundo real, pedindo para que eu me levantasse, todos estavam cantando em pé, e eu estava sentado.

Um dos rapazes que conduzia o ritual, pediu para uma outra pessoa pegar o livro com as músicas que estava embaixo da minha cadeira e me entregar. Eu vejo tudo, mas não consigo me mexer, fico travado, curtindo ainda aqueles pensamentos e sensações. Vejo quando o rapaz se abaixa, pega o caderno e entrega em minha mão. Eu não olho pro livro. Só o seguro.

Vejo um relógio em uma das paredes, já são 23:45, como passou rápido, o trabalho vai chegando ao fim.

A essa hora os efeitos estão mais fracos, mas ainda sinto um pouco “a força”.

Algumas palavras são ditas por um dos coordenadores, todos se cumprimentam, eu e minha amiga conversamos um pouco com algumas pessoas que vieram nos perguntar como foi a experiência, mas como todas aquelas novas sensações e vivências ainda estavam sendo digeridas por mim, só falei que tinha sido intensa e interessante.

Nos falaram quando seriam os próximos encontros, nos despedimos de todos, alguns demonstraram preocupação para saber se eu estava realmente bem. E sim, eu já estava totalmente consciente e sentia que o efeito alucinógeno já havia chegado ao fim.

Saímos da igreja, pegamos o carro e eu voltei dirigindo para Natal.

Ao final de toda a experiência, eu fiquei muito feliz de ter me proporcionado experimentar o chá e participar do ritual.

Ainda existe uma grande barreira de acesso as informações do que é o Ayahuasca e seus efeitos.

Sempre que comento com meus amigos que tomei o chá, me perguntam se tomarei novamente. Se eu sentir que devo tomar, não hesitarei e com certeza participarei novamente.

Li a frase de um dos fundadores da doutrina do Santo Daime, o Mestre Irineu, onde ele diz: “O Daime é para todos, mas nem todos são para o Daime”.

(Foto: Mestre Irineu)

Uma outra frase que me marcou muito, foi a seguinte:

“Quando você quer falar diretamente com Deus, você vai até a igreja. Quando você quer que Deus fale diretamente com você, você toma o Ayahuasca.”

Se você leu essa matéria e sentiu que quer passar por essa experiência, busque um local seguro para que isso aconteça e se permita aprofundar nos seus próprios pensamentos, vai ser incrível.

E caso queira viver isso, através do Santo Daime, segue o site para que você pesquise qual igreja deles está mais próxima de você: http://www.santodaime.org

É isso pessoal, obrigado a todos que seguem os meus canais.

Te recomendo seguir o Próxima Parada também no YouTube e Instagram, os links estão logo abaixo, tem muito material legal por lá:

Instagram: https://www.instagram.com/dannieloliveira/ ou clique AQUI

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Atualização:

Após essa primeira experiência, acabei tomando o chá mais duas vezes dentro. Todas foram experiências incríveis, que me trouxeram mudanças internas muito profundas. Durante minha última experiência, recebi uma mensagem, dizendo que eu deveria ir para a Amazonia, me permitir viver a experiência do Ayahuasca em uma tribo indígena. Espero poder realizar esse chamado assim que possível.

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Danniel Oliveira já conheceu mais de 80 países ao redor do mundo e tem como objetivo tornar viagens de experiência cada vez mais acessível para mais pessoas.

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